sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

A Proposição


Proposição - análise


Análise externa

O texto é constituído por três estrofes (oitavas); os versos são decassílabos com acentos na 6.ª e 10.ª sílabas: As-ar-mas-e os-ba-rões-as-si-na-la

Estes versos decassílabos, com acentos rítmicos na 6.ª e 10.ª sílabas, denominados versos heróicos, dão ao poema esse som alto e sublimado,  isto é, assinalam, no seu ritmo, um compasso de marcha guerreira.

A rima é cruzada e emparelhada, conforme o esquema rimático ABABABCC, esquema este que se repete invariavelmente em todas as estrofes do poema.

Existe rima consoante (assinalados/navegados); rima rica (Taprobana/humana); rima pobre (edificaram/sublimaram); rima feminina ou grave (parte/arte).

Análise interna:

O texto divide-se em duas partes lógicas, sendo a primeira constituída pelas duas primeiras estrofes e a segunda pela última estrofe.

Na primeira parte, o poeta pretende apresentar o assunto do poema: ele vai cantar as façanhas guerreiras dos homens ilustres que se fizeram heróis, devassando o mar desconhecido e fundando no Oriente um novo reino e também os Reis que dilataram a Fé e os Império na África e na Ásia e, por último, todos aqueles que por obras valorosas se tornaram imortais.

Na segunda parte, o poeta afirma que vai cantar a glória do povo português cujas façanhas ultrapassaram em valor as contadas nos poemas greco-romanos.

A intenção do poeta, na segunda parte do texto (terceira estrofe) é a de justificar a razão da sua epopeia: ele vai cantar os feitos grandiosos dos portugueses, porque merecem ser exaltados mais do que aqueles que foram cantados nas antigas epopeias ("Cesse tudo o que a Musa antiga canta / Que outro valor mais alto se alevanta"). Note-se que esta intenção do poeta realça, ao mesmo tempo, o ideal cavaleiresco de exaltação dos que dilataram a Fé e o Império, e a consciência do homem renascentista que se julgava, mais do que em alguma outra época antiga, capaz de realizar os maiores feitos. Ninguém, até esta altura, tinha considerado o homem tão poderoso, física e intelectualmente: nunca, como no Renascimento, o homem se aproximou tanto dos deuses.

Formas periferásticas:

- foram dilatando;

- andaram devastando;

- se vão libertando.

Estas três formas perifrásticas exprimem, em primeiro lugar, o aspecto durativo, apresentam a acção no seu fluir, no seu realizar-se gradualmente. São, portanto, expressões que conferem visualidade e impressionismo à linguagem. Sugerem também que esses feitos heróicos são trabalho não apenas de alguns dias, mas de um percurso  persistente. Além disso, o facto de o poeta usar primeiro o passado (foram dilatando, andaram devastando) e depois o presente (se vão da lei da morte libertando) revela-nos que ele canta não apenas os heróis do passado, mas também os do presente e do futuro (os que se vão da lei da morte libertando). O poeta canta, portanto, a alma de uma pátria que foi, é e será.

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