quarta-feira, 21 de abril de 2010

O Gigante Adamastor

Introdução (est. 37, 38, Canto V):

• Preparação do ambiente para o aparecimento do gigante: depois de cinco dias claros, com ventos calmos, com os marinheiros “descuidados”, surge uma nuvem negra “tão temerosa e carregada” que põe “nos corações um grande medo” e leva Vasco da Gama a interpelar o próprio Deus todo-poderoso.

Aparecimento do monstro e sua descrição (est. 39, 40, Canto V).

• Caracterização directa e indirecta do monstro, sobretudo através de uma adjectivação sugestiva e abundante e da comparação com o Colosso de Rodes, para realçar a imponência da figura e o terror e a estupefacção do Gama e dos seus companheiros (“Arrepiam-se as carnes e o cabelo/A mi e a todos, só de ouvi-lo e vê-lo.” (est. 40. Vv- 7-8, Canto V).


Discurso do gigante (1ª parte) (est. 41-48, Canto V). Glorificação épica.

• Discurso de carácter profético e ameaçador, através do qual Adamastor, num tom de voz “horrendo e grosso” anuncia os castigos e danos por si reservados para aquela “gente ousada” que invadira o seu reino (dos mares):

o A “suma vingança” (a morte) de quem o descobriu (Bartolomeu Dias);

o A morte de D. Francisco de Almeida, primeiro Vice-rei da Índia;

o O naufrágio e a morte da família Sepúlveda;

o E, para além destes casos particulares, as naus portuguesas terão sempre “inimiga esta paragem” através de “naufrágios, perdições de toda sorte/Que o menor mal de todos seja a morte”.

Interpelação do Gama (est. 49, Canto V).

• Gama já incomodado com todas aquelas profecias de desgraça, interroga o monstro sobre a sua identidade. É essa pergunta tão simples que promove a profunda viragem do seu discurso, fazendo-o recordar a frustração amorosa passada e meditar na sua actual condição de degredado solitário e petrificado.


Discurso do gigante (2ª parte) (est. 50-59, Canto V). Lirismo amoroso e elegíaco.

• A resposta à pergunta de Gama tem carácter autobiográfico e tom elegíaco (lamentação, triste) (“com voz pesada e amara”) e disfórico, pois assistimos à evocação do seu passado amoroso infeliz.


Epílogo (est. 60, Canto V).

• Súbito desaparecimento do Gigante, agora choroso pela recordação do seu passado triste e levando consigo a nuvem negra e o “sonoro bramido” do mar com que aparecera. Pedido de Gama a Deus para que remova “os duros casos, que Adamastor contou futuros”.

A Saber:

• Adjectivação expressiva [“cortadora” (est. 37, v. 6); “temerosa”, “carregada” (est. 38, v. 1)];

• Comparação ["Cum tom de voz nos fala, horrendo e grosso, / Que pareceu sair do mar profundo" (est. 40, vv. 5-6);

• Polissíndeto (repetição expressiva de conjunções coordenativas) [De disforme e grandíssima estatura; / Os olhos encovados, e a postura / Medonha e má e a cor terrena e pálida; / Cheios de terra e crespos os cabelos,"].
• Sensações: visuais (predomínio do negro e das trevas) e auditivas (“Bramindo, o negro mar de longe brada, / Como se desse em vão nalgum rochedo” (est. 38, vv.3-4);


• Uso do gerúndio [“cortando”, “assoprando”, “estando”, “vigiando” (est. 37), “bramindo” (est. 38)] para caracterizar a serenidade da situação anterior, de repente alterada pelo aparecimento da nuvem ameaçadora, traduzido pelo uso do presente e do imperfeito do indicativo [“escurece”, “aparece” (est. 37), “brada”, “vinha” (est. 38)];


• Uso da aliteração em “r” e dos sons fechados e nasais, que pela sua maior amplitude, sugerem o ruído do mar (onomatopeia): [“Bramindo o negro mar de longe brada” (est. 38, v.3)];


• Uso da apóstrofe na primeira parte do discurso do Adamastor[“Ó gente ousada, (est. 41, v.1)]. Nesta parte do discurso, predominam o Imperativo (“ouve”, “sabe”), os Futuros do Indicativo [“terão”, “farei”, “acabará”, “vereis”, “serei”, “porá”, “virá”, “trará”, “terá dado”, “deixará”, “verão” (quatro vezes)] e do Conjuntivo (“fizerem”, “fizer” (duas vezes), “ficarem”, “abrandarem”), adequados ao carácter ameaçador e profético;
• Metáfora [“E navegar meus longos mares ousas, / Que eu tanto tempo há já que guardo e tenho, / Nunca arados de estranho ou próprio lenho” (est. 41, vvv. 6-8)] para sugerir implicitamente a comparação dos mares a campos “arados”, lavrados pelas naus.
• Gradação: “Ou fosse monte, nuvem, sonho ou nada?” (est. 57, v. 4).

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